Cazuza, o poeta do rock

Mais um dose, é claro que eu to afim…

Por onde o Cazuza passou, ele deixou sua marca. Foi amado intensamente por amigos, fãs e por todos que faziam de suas composições trilhas sonoras de suas vidas. Foi eleito em 1988, pela revista BIZZ o melhor letrista de rock brasileiro. Desbocado, sexy, despudorado. Suas canções falavam de experiências próprias, sexo, drogas, namoros, triângulos, losangos e poliedros amorosos, enfim, do total desbunde dos anos oitenta.

Apesar do jeito transgressor e por vezes com uma ironia beirando a acidez, principalmente em entrevistas, Caju Escalibur, como era conhecido na intimidade, era uma pessoa doce e amorosa.

Separamos alguns depoimentos de amigos e curiosidades da vida do cantor que mostram o lado doce, leal, irreverente e também muito louco do nosso eterno poeta do rock:

Sandra de Sá – “Quem não o conheceu de perto não tem a noção do tamanho de seu coração. Cuidava de mim, e um dia derrubou com um tapa o copo de uísque que me ofereceram na gravidez. Ele ficou marcado como doidão porque ser verdadeiro é foda”

Ney Matogrosso – “Lembro de Cazuza na intimidade, na cozinha de minha casa: doidão e no extremo oposto da imagem de arruaceiro. Tinha um lado muito doce que não revelava. Acreditava que isso seria sinal de fraqueza, mas não era”.

Ângela Ro Ro – “Estávamos no Baixo Gávea quando passou a (atriz) Arlete Salles. Ele se jogou no chão a seus pés e começou a falar poesias. Foi a única pessoa que conseguiu me deixar constrangida. Botava a bunda de fora na janela do carro, eu me sentia careta. Mas me deu motivos maiores de espanto quando tomou as rédeas de sua vida e demonstrou coragem rara num combate onde não existia vitória, contra o vírus da Aids. Acho que hoje ele seria um grande porta voz político e ético. Uma pessoa a quem poderíamos confiar grandes tarefas

Perfeito Fortuna – “Cazuza tinha espasmos de genialidade, extrapolava e contagiava a todos nós. Era de uma sensibilidade mediúnica. Hoje penso que deveria baixar um preto velho, algo assim. Uma manifestação muito poderosa, que não dura para sempre. Como um trovão na floresta”

Em matéria de bebida Cazuza não tinha preconceitos: bebia de tudo! Mas seu preferido era o uísque, que bebeu pela primeira vez com Vinicius de Moraes! Ainda adolescente, Cazuza e Pedro Bial, seu amigo desde a infância, foram entrevistá-lo para um trabalho do colégio Santo Inácio, onde estudavam. Quando chegaram, se encantaram com a bebida do poeta, que lhes ofereceu e a entrevista acabou em um bate papo animado!

Quando o Barão Vermelho foi formado, e eles começaram a fazer shows por várias cidades, o baixista Dé era menor de idade e Cazuza ficou sendo seu tutor. O cantor era o mais velho do grupo e toda vez que eles iam viajar, tinha que assinar um documento se responsabilizando pelo Dé. Já imaginou?

Todos sabiam da paixão, desde pequeno, de Cazuza por carros. Aos 12 anos já dirigia e aos 13 tinha a chave do carro! Sempre que algum parente comprava um carro novo, era obrigatório levar Cazuza para ver e dar uma volta. Ele também adora velocidade e pisava no acelerador quando um desavisado pegava uma carona. Waldir Leite, um desses, conta que certa vez, Cazuza ofereceu carona a ele, depois de generosas rodadas de chopp e mais alguns destilados, e correu tanto e avançou tantos sinais fechados, que quando parou em frente da casa dele, este jurou que nunca mais aceitaria uma carona do Caju! Já Bebel Gilberto, não se importava muito com isso. Estava acostumada e confiava no cantor. “Ele era muito bom ao volante”, contou ela, numa entrevista.

Cazuza e Ezequiel Neves receberam uma encomenda de uma música para Xuxa, no auge de seu programa infantil, mas o músico não estava lá muito a fim de escrever uma música infantil e disse isso ao Ezequiel, a quem chamava de Zeca. Este insistiu e disse a Cazuza que eles teriam que aceitar essa encomenda de qualquer jeito porque era a chance dele comprar seu apartamento. Decidido a não aceitar a encomenda, Cazuza deu de presente ao Zeca o primeiro apartamento que havia comprado com seu próprio dinheiro e eles não fizeram a música!

Eleito “muso do verão” em 84, Cazuza viu o assédio das fãs aumentarem e ele passou a conviver com isso de forma irreverente Certa vez, na saída do programa do Sílvio Santos, em São Paulo, Cazuza ia entrar num ônibus quando foi agarrado pelas tietes, que queriam rasgar as roupas dele. Já sabendo o resultado do assédio, Cazuza parou, tirou toda a roupa, entregou-a para as fãs e entrou no ônibus do jeito que veio ao mundo!